Trecho do livro " O que amo", de D. Maria José Ribeiro dos Santos Sandoval, dona Zélia, da editora Petry Gráfica Editora. Márcia Lopes Reis foi quem com dedicação, paciência e sabedoria colocou em livro os escritos de dona Zélia.
O caminho da serra contorna sua aba estreita e de íngremes ladeiras que, de um lado, margeia o precipício onde o mato cresce velando pelos viajantes. Do outro lado, era a estrada dos boiadeiros que só se galgava a cavalo ou a pé Hoje, caminho extinto.
Idealizador: Sidonio José dos Santos
O QUE AMO - O Caminho da Serra - Entre Dourado e o Bebedouro
Apesar do perigo e esforço que fazia naquele trecho, eu gostava de me ver debaixo do sombreado que da serra debruçava compondo uma furna pelos ares dos galhos que uniam as margens sob o caminho. Onde a luz peneirava tochas encantadas ou tênues os raios solares brincavam e reluziam qual pirilampos vagando através das rampas verdes e compactas onde o orvalho escondia seus brilhantes.
Tínhamos que ser previdentes pois, entrecortando o espaço surgiam, às vezes, bichinhos como lebres ou sapos saltitando que nos assustavam e, principalmente, aos cavalos que refugavam espantados.
Que mundo lindo eu descobria por vergônteas surgirem confusos cachos serpenteando flores a expandirem agrestes perfumes ouvia-se, ali, o rumor da brisa e lânguidos pios a arrulhar na mata.
Às vezes, através da abóboda das árvores surgiam a ideia de um segundo céu que se aflorava quais estrelas a faiscarem todo seu ouro pelas esvoaçantes coroas de suas copas.
Que mundo de ternura descobria então no doce olhar dessa iluminação sagrada que a nos espreitar parecia querer guiar e defender dos escombros que se apresentavam quase noturnos.
Apesar de poéticas ladeiras, nos inspiravam o receio das ciladas que podiam surgir, respirávamos com desafogo ao terminá-las.
Hoje, o abandono assola esse trecho da estrada onde se perdeu um pedaço de minha infância na garupa de um majestoso cavalo pampa e, a cingir-me na cintura de papai, quando ia ou voltava da escola.